A paisagem às margens da rodovia MS-377, a cerca de 50 quilômetros de Inocência, foi palco ontem de um evento que marca um novo capítulo na industrialização de Mato Grosso do Sul. Com a presença do vice-presidente Geraldo Alckmin, do governador Eduardo Riedel e de uma comitiva de autoridades e empresários, a chilena Arauco lançou oficialmente a sua nova fábrica de celulose, sinalizando o início da fase de construção do empreendimento após meses de terraplanagem.
O investimento de US$4,6 bilhões, considerado o maior da história da Arauco em seus 50 anos de atuação e o maior projeto privado em andamento no Brasil, entra agora em sua etapa mais visível. A terraplanagem, iniciada em meados de 2024, preparou o terreno para o que será a maior planta de celulose do mundo construída em uma única fase.
A solenidade, realizada sob uma grande tenda montada no canteiro de obras, reuniu figuras chave do cenário político e empresarial, incluindo ministros, parlamentares, executivos da Arauco vindos do Chile e o embaixador chileno no Brasil, Sebastián de Polo.
Cristian Infante, CEO do grupo Arauco, elogiou as condições favoráveis encontradas em Mato Grosso do Sul, destacando a seriedade e o profissionalismo do estado em contraste com a burocracia de outras regiões.
A transição da terraplanagem para a construção civil mobilizará um contingente gigante de trabalhadores. Estima-se que o pico da obra empregará cerca de 14 mil pessoas, transformando a dinâmica da pequena Inocência, que atualmente tem pouco mais de 8 mil habitantes. O CEO da Arauco no Brasil, Carlos Altimiras, previu uma "transformação positiva" para a cidade, que se insere no setor que hoje lidera as exportações sul-mato-grossenses.
A previsão é que a megafábrica comece a operar no último trimestre de 2027. A capacidade de produção anual será de 3,5 milhões de toneladas de celulose, utilizando como matéria-prima eucalipto cultivado em aproximadamente 400 mil hectares na região, por meio de contratos de parceria com proprietários rurais.
O governador Eduardo Riedel ressaltou a relação de confiança construída com a empresa e os compromissos assumidos pelo estado para viabilizar o projeto, incluindo melhorias na MS-377, a conclusão da pavimentação da MS-320 (ligando Inocência a Três Lagoas), a entrega de um aeródromo e parcerias para a construção de moradias.
Para o prefeito de Inocência, Antônio Ângelo Garcia dos Santos, o início da construção representa a concretização de um "sonho", resultado de anos de negociação e parceria. A expectativa é que o empreendimento não apenas gere milhares de empregos diretos e indiretos na fase de operação, mas também impulsione toda a cadeia produtiva local.
Inicialmente, a Arauco havia solicitado licença para duas unidades com capacidade de 2,5 milhões de toneladas cada. No entanto, com a ampliação já na largada da primeira planta, a decisão sobre a construção da segunda unidade foi adiada.
Bataguassu pode entrar na rota da celulose
O crescimento dos investimentos voltados à celulose em MS tem gerado expectativas em outras cidades, como é o caso de Bataguassu. Na semana passada, representantes da empresa indonésia Bracell visitaram o gabinete da senadora Soraya Thronicke e deram fortes indícios de que a multinacional engavetou o projeto de construção de uma fábrica em Água Clara e passou a priorizar o município de Bataguassu para o investimento, estimado em 4,5 bilhões de dólares.
De acordo com nota distribuída pela assessoria da senadora, os representantes da Bracell, Manoel Browne e Guilherme Farhat, estiveram em seu gabinete na quarta-feira para solicitar apoio para melhorias na BR-158, que será impactada pelo aumento do tráfego de caminhões com a possível instalação da nova fábrica de celulose em Bataguassu.
Caso realmente se instale aqui na cidade, a Bracell terá de despachar sua produção por cerca de 270 quilômetros até Aparecida do Taboado, passando por cidades como Brasilândia, Três Lagoas e Selvíria para chegar à ferrovia pela qual é possível levar a celulose até o porto de Santos.
Conforme Manoel Browne, que é executivo da Bracell, depois que a fábrica estiver funcionando, haverá um acréscimo de cerca de 80 mil caminhões por ano, ou mais de 200 por dia, na rodovia estadual MS-395 e na BR-158, que margeiam o Rio Paraná. E, para suportar este fluxo, os representantes da empresa cobraram a recuperação da pista, inclusão de acostamentos e construção de terceiras faixas nos trechos de subida.
Até agora a empresa não se manifestou oficialmente sobre o local em que será feito o investimento. Mas, na visita ao gabinete da senadora, os representantes da empresa acabaram deixando claro que engavetaram o projeto de Água Clara e estão priorizando Bataguassu, região onde a Bracell já tem quase cem mil hectares de plantação de eucalipto.