Enquanto o PSDB caminha para uma possível fusão com o Podemos, e negocia também uma federação com o Republicanos, o clima entre os deputados estaduais tucanos de Mato Grosso do Sul é de incerteza, cálculo político e articulações antecipadas de olho nas eleições de 2026.
Em conversas ontem com a reportagem do Campo Grande News, os deputados estaduais Zé Teixeira, Lia Nogueira e Pedro Caravina revelaram os bastidores da movimentação interna do grupo, que hoje representa a maior força estadual do PSDB no país, mas vive um dilema diante do iminente redesenho do partido.
A conversa ocorreu após a sessão da Assembleia Legislativa, onde os parlamentares, ao final dos trabalhos, se reuniram informalmente para discutir os rumos do partido. A reunião foi motivada diretamente pela fala do governador Eduardo Riedel, que declarou publicamente que dará um prazo até o fim de abril para que o partido defina seu futuro. Caso isso não ocorra, tomará uma decisão individual sobre sua permanência ou não no PSDB.
A afirmação do governador, que ainda é o único dos três eleitos pelo PSDB em 2022 que permanece no partido, repercutiu fortemente entre os deputados. Os parlamentares admitem que a escolha de Riedel e do ex-governador Reinaldo Azambuja será determinante para os próximos passos de cada um, mas também deixam claro que já estão fazendo suas próprias contas políticas.
O deputado estadual Zé Teixeira foi o mais enfático na crítica ao partido. Para ele, o PSDB já não existe mais como força nacional, e a fusão com o Podemos não representa uma solução. O parlamentar falou que o PSDB é um partido que só existe em Mato Grosso do Sul, sendo assim, não tem como sobreviver.
O deputado Pedro Caravina adotou postura mais conciliadora, mas reforçou que sua permanência ou não no novo PSDB dependerá diretamente da decisão das duas principais lideranças estaduais, Riedel e Azambuja. Ele disse que se Riedel e Azambuja permanecerem na fusão, existe uma possibilidade concreta de ele também ficar.
Nos bastidores, Caravina é visto como o mais propenso a assumir protagonismo na nova formação partidária, caso a fusão se concretize e tenha a participação de Riedel e Azambuja.
A deputada Lia Nogueira também afirmou que irá aguardar a decisão das lideranças tucanas antes de definir sua própria rota.
Desde as eleições de 2018, o PSDB tem sofrido um esvaziamento em nível nacional. Dos três governadores eleitos pela legenda em 2022, dois já romperam ou sinalizaram ruptura com o partido. Com isso, Mato Grosso do Sul passou a ser o último reduto expressivo dos tucanos, com 44 das 79 prefeituras sob comando da sigla, além de uma bancada sólida na Assembleia Legislativa, que ainda conta com os deputados Jamilson Name, Mara Caseiro e Paulo Corrêa.
A fusão com o Podemos e a possibilidade de uma federação com o Republicanos são tentativas da Executiva Nacional de salvar o projeto político e manter alguma competitividade nas eleições do ano que vem. Mas, como destacou Zé Teixeira, muitos filiados consideram essas articulações guiadas por interesses regionais e pouco conectadas à realidade do partido aqui no Estado.
A expectativa é de que até o dia 30 de abril a direção nacional do PSDB anuncie oficialmente a fusão com o Podemos. A partir disso, as decisões individuais dos deputados devem começar a ser tomadas.
O cenário que se desenha é de fragmentação e de realinhamento político com foco em 2026, principalmente com a intenção de garantir a reeleição do governador Riedel. Resta saber se o novo partido, seja ele o PSDB reformulado ou uma nova legenda resultante da fusão, terá força suficiente para manter unido o grupo político que hoje ainda segura o que restou do legado tucano no país.